Carta à A. R.

Nós costumávamos idealizar um mundo onde não existiam os outros. O sol, as manhãs, a felicidade, as 13:50, o telefone, o teclado, as estrelas e até mesmo a agonizante depressão pareciam viver apenas para nós. Éramos egoístas - é verdade - porém amávamos essa nossa cumplicidade. Cumplicidade de um mundo que pincelávamos todos os dias em nossas mentes imaturas e frágeis. Talvez tão frágeis quanto nossos corações,... Aliás, dizer que nossos corações eram frágeis é puro eufemismo, você não acha?

Na verdade eu sempre soube que eterno e o “pra sempre” eram passageiros, mas mentir para cada um de nós era deliciosamente prazeroso... E venenoso, é claro. Aliás, era uma mentira inconsciente. - se é que existem mentiras inconscientes. Realmente acreditávamos no NOSSO futuro, no NOSSO presente e é claro, no poder da NOSSA amizade.

Nós construirmos tantos castelos na areia. Achávamos que fortificávamos as bases a cada dia. Mas quem puderia imaginar que a onda seria tão alta? Ein minha amiga? Quem puderia imaginar que o amor era metamorfósico? Acredito que não temos as respostas, e talvez nuncas as teremos. O que realmente temos são as lembranças de uma amizade que foi a melhor parte de cada um de nós... Aliás, que foi não; porque ela ainda vive dentro de mim, eu ainda a respiro mesmo que eu não queira. Ela não está morta, e você sabe disso. Está apenas oculta em nossos corações esperando freneticamente para ser acordada, revivida e modificada. O que vivemos foi apenas o começo de algo que nunca irá se deteriorar, porque mesmo após a morte esses sentimentos particulares irão viver porque já fazem parte da essência das nossas almas.

Nosso erro? A embriaguez da emoção.